Boia-fria criado com mais nove irmãos, e maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima proporcionou um dos mais nobres exemplos de espírito olímpico ao continuar na prova mesmo depois de atacado por um maluco.
O Brasil acompanha surpreso e maravilhoso a transmissão da maratona na Olimpíada de Atenas. O ex-boia-fria Vanderlei Cordeiro de Lima, com seu corpo mirrado de 1,68 e 54 quilos, lidera com 40 segundos de vantagem e só faltam seis quilômetros para a medalha de ouro. De repente, ele perde o passo e, olhos arregalados, tenta se proteger de um homem alto, vestido como um bobo da corte, que o interceda e o empurra para cima da multidão.
“Imaginei que ele tivesse uma arma. Esperei pelo pior. Não tive forças para reagir”, disse o brasileiro, que se deixou agarrar pelo maluco, o ex-sacerdote irlandês Cornelius Horan.
Não fosse a intervenção de um espectador e a corrida, para Vanderlei, teria terminado ali. Polyvios Kossivas, um homem forte, de barbas e cabelos grisalhos, o livrou dos braços de Cornelius e o empurrou de volta à pista.
“Não fiquei lesionado, mas aquilo cortou meu ritmo. A vitória escapou ali, pois me assustei muito”, disse o brasileiro, que eu já tinha em seu currículo o título da maratona de Tóquio e o bicampeonato nos jogos Pan-americanos.
Especialistas concordam que foi sorte Vanderlei não ter sofrido uma contusão muscular ou um problema circulatório por interromper bruscamente a corrida. Após o incidente, mais lento, foi ultrapassado pelo italiano Stefano Baldini e o norte-americano Mch Keflezighi, mas prosseguiu na prova, terminou aplaudido de pé ao entrar ao estádio Panathinaikos em terceiro lugar e deu ao Brasil sua primeira medalha na maratona olímpica.
O resultado não pôde ser alterado, mas Vanderlei Cordeiro de Lima, criado com nove irmãos na lavoura de Cruzeiro do Oeste, Paraná, foi agraciado com a Medalha Pierre de Coubertin, concedida apenas a atletas que colocam o espírito esportivo acima do desejo de vitória.
Antes do brasileiro, o último a receber a homenagem tinha sido o velejador canadense Lawrence Lemieux, que nos jogos de Seul abandonou a prova para salvar uma pessoa que havia caído ao mar.
As maiores vitórias não são medidas pelo que se ganha, mas pelo que se dá.
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